Bactéria que pode solucionar a poluição da água na industria têxtil

Em 1856, o químico William Henry Perkin enquanto tentava produzir quinino, substância usada pra tratar a malária, acidentalmente criou o primeiro corante sintético. Uma substância roxa vívida que facilmente se transferia para o tecido, mas que desencadeou uma corrente de problemas ambientais. Atualmente, a indústria de tingimento usa mais de 8.000 produtos químicos, incluindo o enxofre, arsênico e formaldeído, substâncias prejudiciais a vida selvagem e a saúde humana. A baixa regulamentação, principalmente em países menos desenvolvidos significa que muitos fabricantes de tecidos despejam substancias diretamente em cursos d’agua locais. Isso torna a indústria de tinturaria uma das mais prejudiciais ao meio ambiente do mundo, responsável por até um quinto da poluição das águas industriais.

Em 2013, uma equipe de cientistas da Universidade de Cambridge estava no vale de Kathmandu, no Nepal , desenvolvendo um dispositivo para medir a poluição das águas na região e em conversa com a população local, que depende dos riachos e rios imundos para o abastecimento de água, descobriram que os resíduos das fabricas têxteis estavam contaminando os cursos da água.

Mais de 85% da população não tem acesso a água potável. “Quando percebemos que grande parte da poluição vem de algo tão simples como colocar cor em nossas roupas, pensamos ‘tem que haver uma maneira melhor'” diz Orr Yarkoni, um dos pesquisadores da expedição.

Três anos depois produzido por Yarkoni e mais dois colegas da Universidade de Cambridge, Jim Ajioka e David Nugent surge o Colorifix que apresenta uma tecnologia que elimina a necessidade de produtos químicos tóxicos, além de usar 90% menos água e 40% menos energia que o processo de tingimento convencional.

Reprodução: CNN

A tecnologia copia os processos da natureza em um ambiente de laboratório, replicando a “mensagem do DNA” que codifica as cores um um organismo. O Colorifix insere a informação genética que direciona o processo de coloração em uma célula bacteriana, que se copia a cada 25 minutos. As bactérias são alimentadas com melaço de açúcar e nitrogênio – subprodutos da indústria agrícola – em uma máquina de fermentação, onde as células se multiplicam, cada uma produzindo mais pigmento.

Existem outras empresas que usam biotecnologia para criar corantes sustentáveis, como a alemã-israelense Algalife que está cultivando corantes não toxicos com algas e a startup francesa Pili que usa um processo parecido com o Colorifix mas, que ainda está em processo de teste. Entretanto, Yarkoni afirma que o Colorifix é a unica startup de biotecnologia que visa transformar a produção e aplicação de corantes. Isso porque é a unica que coloca as bactérias diretamente no tecido para colori-lo, as membranas dos microrganismos se rompem e liberam a cor que se ligam quimicamente à fibra.

Outro beneficio da tecnologia está na redução de poluição provocada pelos transportes. Em vez de transportar grandes quantidades de corantes, o Colorifix envia cinco gramas de bactérias coloridas para uma tinturaria e o microrganismo vai se multiplicar ao ponto de 10 dias depois a fabrica poder produzir 50 toneladas de solução de corante por dia.

Apesar das vantagens, o processo ainda passa por alguns desafios. Um deles é que as tinturarias precisarão comprar equipamento de fermentação e receber o treinamento da Colorifix para conseguir realizar o processo internamente. Além disso, Georgia Parker, gerente de inovação da aceleradora de inicialização Fashion For Good, diz que transportar micróbios vivos com segurança é outro obstáculo. “Existe uma legislação específica sobre o transporte de organismos vivos em diferentes geografias […] Como uma tinturaria, você precisaria obter aprovação do governo para importar esses organismos.” Parker aponta que mesmo com as barreiras o uso de bactérias se tornarão eficazes em termos de custo a longo prazo e serão usados mais amplamente na industria.

Um dos apoiadores que investiu na empresa em 2018 e continua a testar a tecnologia é a gigante sueca H&M, sendo uma das várias marcas de fast fashion que adotam metas ambiciosas para reduzir a pegada ambiental e química.

Mesmo que, no início do Colorifix, Yarkoni diz estar confiante de que as soluções de bioengenharia ajudarão a definir um caminho mais verde para a indústria da moda.

Fonte: CNN International

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