“Pose” e as suas referências por trás da série.

“The category is: Live. Work. Pose.”

E é com esta frase e um instrumental da canção Vogue, que dá-se a abertura da série que iremos tratar na edição desta semana e que merece toda a atenção do público: Pose.

Criado por Ryan Murphy, Steven Canals e Brad Falchuk, Pose é uma série de televisão americana, sendo transmitida na emissora FX, tendo a sua estreia no dia 3 de junho de 2018.

Sobre o que se trata

A história se passa na cidade de Nova York, mostrando o cenário de um grupo LGBTQIA+ e a cultura do ballroom, um baile de competição entre dançarinos e modelos. A série retrata as casas, onde grupos são formados e constituem uma família, tendo cada espaço uma mãe ou um pai para comandar o ambiente. As temporadas se passam nos anos 80 e 90, mostrando o estigma em que a comunidade sofre, principalmente em um período em que a AIDS se encontrava no auge. E nesta matéria, resolvi pontuar para vocês alguns aspectos que considero serem relevantes para entendermos o que molda esta série e que a torna tão importante. Vamos lá?

Elenco
  • Dominique Jackson: interpretando Elektra Abundance, uma mulher trans e uma das campeãs reinantes nos bailes de salão.
  • MJ Rodriguez: interpretando a Blanca, uma mulher trans e que ao abandonar a Casa Abundance, comandada por Elektra, e ao abrir o seu novo espaço, nomeando-o Casa Evangelista, dá início a um novo ambiente de acolhimento a um grupo de adolescentes, o qual ela adota como seus filhos, e passa a mostrar-lhes que há um futuro promissor esperando por cada um deles.
  • Indya Moore: interpretando a belíssima Angel, uma mulher trans que inicia a série como uma prostituta, mas com o auxílio de Blanca, prossegue a vida em busca do seu grande sonho: ser uma modelo famosa.
  • Ryan Jamaal Swain: interpretando o Damon, que ao ser expulso da casa de seus pais biológicos por sua orientação sexual, é acolhido por Blanca em sua casa e motivado por ela a seguir o seu sonho de ser um dançarino profissional.
  • Dyllón Burnside: interpretando o Ricky, que é levado a Casa Evangelista e vive uma história de romance com Damon.
  • Angel Bismarck Curiel: interpretando o Lil Papi, membro da Casa Evangelista e a quem inicia uma relação com Angel, através de um amor fervosoro e sincero.
  • Billy Porter: interpretando o Pray Tell, a estrela não somente dos bailes, mas que por onde passa, deixa o seu brilho com muito carisma e classe. É um dos grandes amigos de Blanca.
  • Angelica Ross: Candy, uma mulher trans e membro da Casa Abundance. A sua capacidade de ser uma estrela nos bailes é constantemente posto em dúvida por seus colegas do baile.
  • Hailie Sahar: interpretando a Lulu, também mulher trans e membro da Casa Abundance.
  • Evan Peters: interpretando o Stan Bowes, um homem branco que atua em um ambiente corporativo da Organização Trump, casado e com filhos. Mas que a partir de um tempo percebe-se apaixonado por Angel.
  • Kate Mara: interpretando a Mara, esposa de Stan.
  • James Van Der Beek: interpretando Matt Bromley, colega de trabalho de Stan.
  • Charlayne Woodard: interpretando a Helena St. Rogers, é a professora de dança de Damon e a quem o dará grandes oportunidades para o sucesso na carreira.
Steven Canals e a visibilidade trans

Steven Canals, um dos criadores de Pose, fala sobre a falta de representatividade nas televisões de pessoas negras e o quanto este reflexo tem afetado o modo como ele mesmo se via. Em uma entrevista para a Adoro Cinema, quando questionado sobre o que significa para ele a voz das minorias sendo representadas na televisão, ele responde: “O cinema e a televisão podem afirmar identidades, e existem muitos estudos que mostram que isso aumenta a autoestima. E eu penso que estamos passando por um momento, especialmente nos Estados Unidos, onde a administração atual vem atacando pessoas não brancas e queer, é muito importante que as pessoas dessas comunidades saibam que são importantes, que eles são valorizados e merecem ter suas vozes ouvidas e receberem amor.”. Ótima afirmação, não?!

Steven Canals (a direita) e elenco.

E podemos perceber que a busca pela representatividade está bem explicita na série, levando em conta que Pose é uma das séries com o maior elenco trans da televisão. E de uma coisa é certa: depois que você assistir a série, você, assim como eu e muitos outros, concordará com o fato de que temos muito o que aprender com este elenco e com as pessoas trans no geral que também ocupam outros espaços. Porém, nem sempre isto é levado a sério no real. Angelica Ross, uma das atrizes da série, se emocionou em uma live do Instagram ao dizer sobre a falta de nomeação das atrizes trans da série à premiação Emmy 2020. “Eu preciso que vocês entendam, eu estou tão cansada. Pra aqueles que me conhecem sabem que eu não estou apenas trabalhando na frente ou atrás das câmeras, mas aonde quer que esteja eu quero que nossa sociedade valorize vidas trans e vidas negras trans. Eu me sinto dessa forma porque acho que não há nada que possamos fazer.”, disse.

O único que levou a indicação foi o seu colega de trabalho, Billy Porter e que inclusive, ganhou a categoria de “Melhor Ator em Série Dramática”, sendo o 1º ator negro gay a ganhar o Emmy.

Billy Porter e seu prêmio de Melhor Ator.
Cultura Ballroom

A cultura Ballroom é um dos principais aspectos da série.Mais do que uma festa de temática LGBT e uma competição, é um espaço de acolhimento, onde as pessoas se sentem protegidas e livres para se expressarem do modo como de fato são, sem a interferência de uma opressão ou marginalização da sociedade.

Apesar dos relatos de que o evento teve seu início dos anos 60, o ápice do movimento ocorreu na década de 80. Como uma espécie de baile, através das categorias apresentadas, as pessoas desfilam com os seus figurinos e performances, na tentativa de alcançarem o pódio e receberem o troféu que lhe dará um grande prestígio.

Ryan Jamaal Swain

Até meados de 1972, os ballrooms eram dominados por pessoas brancas. Até que a drag queen negra Crystal Labeija tomou o espaço e, fundando a primeira casa, a House Of Labeija, tornou do baile um evento voltado para LGBTs negros e latinos.

Você pode conferir mais sobre esta cultura através do filme-documentário Paris Is Burning (1990), retratando a comunidade de Nova York e o seu estilo de vida. E caso você queira conferir um vídeoclipe bapho usando a referência da cultura ballroom, a nossa tão querida drag queen Gloria Groove usou disto para a execução do seu clipe, “A Caminhada”. Confira!

Paris Is Burning (1990)
Vogue e a influência de Madonna

O voguing originou-se dentro dos ballrooms, tendo sido criado pela comunidade LGBT negra e latina. Trata-se de um estilo de dança inspirado nas poses que as modelos da Vogue fazem, como por exemplo o movimento de parecerem que estão retocando a maquiagem, com poses estáticas que transitam de uma para a outra.Em 1990, esses paços de danças chegaram até à Madonna, levando-a a usar da sua própria plataforma um lugar de visibilidade para a comunidade LGBTQIA+ e, com a ajuda do coreógrafo, Jose Guiterrez, lançar o seu clipe. Para conferir o vídeoclipe, clique aqui, e para conferir a performance de Madonna no MTV Awards (1990), clique aqui.

E finalmente, o comeback.

E é no dia 3 de maio que, com o coração já apertado de saudades, Pose retorna às telas com a sua 3ª e última temporada.

Foto postada nas redes sociais pelo elenco da série.

As palavras de Ryan não poderiam ser melhores quando ele diz: “Essa série fez história atrás e na frente das câmeras e seu legado é profundo“.

Period.

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