A moral à exaustão’ ou ‘A última ceia de Jair Bolsonaro

Levada às suas consequências finais, a moral apresenta as mais contravertidas aberrações, capazes de propor, por exemplo, ‘gradações de branquitude’ como as vistas no regime hitlerista, que ressoam até hoje em fóruns supremacistas brancos de internet. Mais ainda, levá-las em prática: é estimado que de 1.8 a 1.9 milhão de civis poloneses não-judeus e mais de 12 milhões de eslavos morreram por conta da ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial. Historicamente, Hitler não usa os judeus como ‘bode expiatório’ para a derrota da Alemanha na guerra e a instauração da República de Weimar: assumir que tivesse o feito consistiria em negligenciar a contribuição da moral cristã no processo de sinonimizar “judeu” e “traidor” sob o arquétipo de Judas.

Jair Bolsonaro esbanja a moral à exaustão em atitudes como ‘lavar as mãos’ para a morte generalizada de centenas de milhares de brasileiros, muitos deles seus próprios eleitores, para dar embasamento à aura de inequívoco que seus militantes cultivam de si. Estes, por outro lado, denominados de “cidadãos de bem” que prezam pela “moral e pelos bons costumes”, fazem como nos tempos de outrora: diante da contestação da fé, arrancam os olhos.

Finalmente aberta a CPI da Pandemia, o jantar dado por Jair Bolsonaro e organizado pelo ministro das Comunicações Fábio Faria com apoiadores no meio empresarial na última quarta-feira (7) me lembra a fala recente de Fernando Gabeira à GloboNews, segundo o qual Jair Bolsonaro utiliza-se de uma ‘lógica de bunker’, cercando-se de seus apoiadores mais fieis por estar temeroso de uma traição. Parte considerável do empresariado já vem o descartando como força motriz da política liberal prometida em campanha e que seria encabeçada por Guedes, vide a sugestão de Arthur Lira em usar um “remédio amargo” caso o governo continue errando. Tenhamos vivenciado ‘A última ceia de Jair Bolsonaro’ ou não, conhecemos a roupagem moral a qual ele e seus militantes atribuem à figura de Jesus de Nazaré: caso caia, cairá atirando.

Texto colaborativo escrito por Rodrigo Reichardt.

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