#Conheça – Conceição Evaristo

”A mulher negra tem muitas formas de estar no mundo (todos têm). Mas em contexto desfavorável, em cenário de discriminações, as estatísticas que demonstram pobreza, baixa escolaridade, subempregos, violações de direitos humanos, traduzem histórias de dor. Quem não vê?”

Profunda a citação, né? Pois é. É um dos trechos que introduzem a uma das obras de uma escritora que eu classificaria como ”necessária”. Seu nome? Conceição Evaristo.

Biografia

Maria da Conceição Evaristo de Bento, nasceu no dia 29 de novembro de 1946 em uma comunidade da zona sul de Belo Horizonte. Escritora brasileira e professora, foi a primeira de sua família a conseguir um diploma universitário, na Educação de Minas Gerais. É popularmente conhecida pelas suas obras dos mais variados gêneros literários e principalmente por se manter ativa à luta do movimento negro, o que também reflete em seus ‘escritos’. Ainda jovem, se mudou da sua comunidade tendo que conciliar os estudos e trabalhando como empregada doméstica, quando em 1971, aos 25 anos, conseguiu concluir o seu curso normal. Passou em um concurso público para o Magistério e estudou Letras na UFRJ. Conceição é mestre em Literatura Brasileira pela PUC-Rio e doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense.

Família

Conceição teve pouco contato com o seu pai. Então, durante toda a sua vida foi criada pela sua mãe, Josefina Evaristo, uma lavadeira que tinha o apoio de sua filha na execução do serviço, e seu padrasto, Aníbal Vitorino, pedreiro numa comunidade da Avenida Afonso Pena. E irmã de 4 meninas e 5 meninos, sendo a 2ª Maria dentre as irmãs.

Inclusive, não podemos deixar de lado a consideração que a Conceição tem pela sua tia, denominando-a como a sua segunda mãe e que a acolheu aos 7 anos de idade em sua casa, o que a facilitou na vida dos estudos.

Conceição Evaristo e sua mãe, Josefina Evaristo.
Sua estreia na Literatura

Conceição deu início à publicação de suas obras em 1990 na série Cadernos Negros, publicados pelo grupo Quilombhoje, um coletivo cultural e uma editora de São Paulo. E as suas publicações variavam dentre os demais gêneros literários.

Os seus textos, apesar do uso de metáforas ou de algum personagem fictício, estão sempre retratando à realidade da vida de pessoas negras e a marginalização na qual elas são inseridas, com forte valorização da memória ancestral. Em uma entrevista a revista Conexão Literatura, o entrevistador deduz que as suas obras tornaram-se ferramentas contra a discriminação racial e injustiças sociais, e Conceição afirma: ”(…) Assim como há discursos literários fomentadores de posturas racistas, machistas, homofóbicos e outras práticas cruéis de uns sujeitos sobre outros, há uma literatura que pode concorrer para relações mais humanas entre as pessoas.”. E esta proposta à literatura é exatamente o que ela propõe em seus textos. É de encantar, né?

”Escrevivência”, o significado de ”ai, Gabi… só quem viveu, sabe”.

Não é novidade que muitos artistas usam de sua arte (seja na música, na dança, no teatro, na literatura) para externar de um modo singular as suas vivências. Ás vezes de um modo metafórico, fictício. Já outros em outros momentos, de um modo mais objetivo e claro.

E foi usando deste recurso que a Conceição adotou um novo termo que define exatamente as suas propostas através de seus textos: ”escrevivência”. Ou seja, a cada leitura que você fizer de uma das obras da escritora, você estará sendo ”convidado” a conhecer mais da Conceição e seu histórico de uma vida pobre e árdua e principalmente da condição de uma mulher negra em uma sociedade marcada pela discriminação racial. Para entender um pouco mais deste conceito, clique aqui e assista ao vídeo em que Conceição, através de um discurso claro e reflexivo, te levará à uma compreensão mais clara e abrangente sobre o termo.

Bem, agora que você já sabe um pouco sobre esta renomada escritora – e eu digo ”um pouco”, pois o tanto de bagagem que a Conceição traz não cabe em um post -, vamos conhecer as suas principais obras que são de tirar o fôlego. ‘Bora’ lá?

Suas principais obras
  • Ponciá Vivêncio (2003)

”A história de Ponciá Vicêncio descreve os caminhos, as andanças, as marcas, os sonhos e os desencantos da protagonista. A autora traça a trajetória da personagem da infância à idade adulta, analisando seus afetos e desafetos e seu envolvimento com a família e os amigos. Discute a questão da identidade de Ponciá, centrada na herança identitária do avô e estabelece um diálogo entre o passado e o presente, entre a lembrança e a vivência, entre o real e o imaginado.”

  • Becos da Memória (2006)

”Becos da memória é um dos mais importantes romances memorialistas da literatura contemporânea brasileira. A autora traduz, a partir de seus muitos personagens, a complexidade humana e os sentimentos profundos dos que enfrentam cotidianamente o desamparo, o preconceito, a fome e a miséria; dos que a cada dia têm a vida por um fio. Sem perder o lirismo e a delicadeza, a autora discute, como poucos, questões profundas da sociedade brasileira.”

  • Poemas da recordação e outros movimentos (2017)

”Fazendo uso de variados recursos: uma rica visão poética emotiva e a tematização sentimental, social, familiar e religiosa; com coragem, experiência, estilo bem definido e uso de intertextualidades, são enunciadas pela autora a pobreza, a fome, a dor e a enganosa-esperança de laçar o tempo; assim como há espaço para a paixão, o amor e o desejo. Nada, porém, é superficial, gratuito ou excessivo em Poemas da recordação e outros movimentos, que se sustenta em crítica social e no profundo de cada experiência, a partir da produção de um conjunto de poesias fortes e criativas, de belo senso rítmico, cuja leitura desperta emoções, graças à empatia que se estabelece entre os que leem os poemas e a expressividade emotiva e literária de Conceição Evaristo, quando faz despontar os mundos submersos, que só o silêncio da poesia penetra.”

  • Insubmissas lágrimas de mulheres (2011; 2ª edição pela Editora Malê, 2016)

”A antologia Insubmissas lágrimas de mulheres é composta de 13 contos, cujas histórias têm como protagonistas mulheres negras. De dentro da cena, vozes-mulheres explicitam suas dores, anseios, temores, mas, antes de tudo revelam a imensa capacidade de se retirem do lugar do sofrimento e inventarem modos de resistência. Uma intima fusão entre as personagens, a voz ficcional de quem apresenta essas personagens e a autora, marca o processo criativo dos textos e afirma o projeto literário de Conceição Evaristo, o de traçar uma escrevivência.”

  • Olhos D’Água (Editora Pallas, 2014)

”Em Olhos d’água Conceição Evaristo ajusta o foco de seu interesse na população afro-brasileira abordando, sem meias palavras, a pobreza e a violência urbana que a acometem.”

  • Histórias de leves enganos e parecenças (Editoria Malê, 2016)

”Conceição evaristo, escritora mineira, poetisa, romancista e contista nos oferece um livro inovador com doze contos e uma novela, nesses tempos de conturbação política, à beira de um inesperado retrocesso das conquistas sociais no brasil. Dizemos inovador porque, mesmo que se comprove a existência de elementos discursivos recorrentes nos livros anteriores, em histórias de leves enganos e parecenças, conceição toma a decisão de percorrer a seara do insólito, do estranho e do imprevisível.”

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