Dom Phillips e Bruno Pereira: de desaparecidos a vítimas de “crime político”

Jornalista e indigenista são assassinados, polícia prende suspeitos e órgãos se manifestam

Desde o dia 5 de junho, o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira estavam desaparecidos, durante uma expedição no Vale do Javari, terra indígena no estado do Amazonas. A área é conhecida por ser o foco de tráfico de drogas, armas, garimpo ilegal e disputa entre facções. Investigadores acham que a pesca ilegal que financia tráfico de drogas pode estar por trás do crime

Dez dias depois do desaparecimento, restos dos corpos foram encontrados a três quilômetros de onde os dois foram mortos. Na sexta-feira (17) e no sábado (18) os corpos de Dom Phillips e Bruno Pereira foram identificados, respectivamente. Até o momento, três suspeitos foram encontrados: o pescador Amarildo da Costa Oliveira, o irmão dele Oseney de Oliveira e Jefferson da Silva Lima.

O pescador Amarildo, conhecido como Pelado, foi preso no dia 7 e, segundo a investigação, confessou no dia 14 que matou a dupla e enterrou os corpos na região do Rio Javari. Ele ainda levou as autoridades até o local. O irmão Oseney, conhecido como Do Santos, também foi preso, mas negou envolvimento no crime. Já Jefferson, conhecido como Pelado da Dinha, se entregou para a polícia e teve prisão temporária decretada após audiência.

Testemunha é levada pela Polícia Federal | REUTERS / Bruno Kelly

Até o momento, o laudo da Polícia Federal confirmou que Bruno e Dom foram mortos a tiros. Bruno com três disparos e Dom, um disparo. Segundo o laudo, o jornalista foi morto por traumatismo na parte do tronco e o indigenista, por traumatismo na cabeça e no tronco, com dois tiros no tórax e um no crânio. A análise diz ainda que os disparos foram feitos com “munição típica de caça”.

MAS QUEM SÃO DOM E BRUNO?

Dom Phillips é jornalista britânico colaborador do jornal The Guardian aqui no Brasil. Ele viajava frequentemente para a Amazonia para expor a crise ambiental e como isso afetava os povos indígenas. Inclusive, o jornalista estava escrevendo o livro “Como salvar a Amazonia”.

Os dois homens se conheceram em uma viagem de Dom ao Vale do Javari em 2018. Bruno era indigenista e atuante na defesa dos povos indígenas. Ele era especialista na FUNAI, mas pediu exoneração em 2019 e continuou como assessor na União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).

REPERCUSSÃO

Quem lembra que o presidente Bolsonaro definiu a expedição que Dom e Bruno faziam a trabalho como “aventura”, enquanto ambos estavam desaparecidos? Então, agora o presidente prestou condolências às famílias.

“Nossos sentimentos aos familiares, e que Deus conforte o coração de todos!”

disse Bolsonaro em publicação.

Porém, em entrevista concedida na quinta-feira, o chefe de estado disse que Dom Phillips era “malvisto” por muitas pessoas na região pelas reportagens que fazia sobre o garimpo ilegal e que, por isso, ele devia ter atenção redobrada ao adentrar naquela área.

O governo nacional era criticado principalmente por órgãos internacionais pelo pouco envolvimento no caso enquanto o jornalista e o indigenista ainda estavam desaparecidos. Em entrevista a um canal do Youtube, Bolsonaro disse que o governo se esforça no caso desde o primeiro dia.

A Univaja afirmou que compreende o assassinato da dupla como um “crime político”, porque, de acordo com nota emitida pela União, os dois eram defensores dos direitos humanos e foram mortos executando um trabalho em benefício dos povos indígenas.

Nas ruas, as pessoas organizaram manifestações por justiça ao jornalista, ao indigenista e aos povos indígenas. Cartazes destacavam temas como o garimpo ilegal, a luta dos povos e a situação de Amazonia. Nos Estados Unidos e em Londres também ocorreram manifestações, que questionavam a demora nas buscas e a falta de recursos na procura.

Servidores da Funai em ato | Divulgação

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