Entrevista | Conheça Giô e seu primeiro single, “Eu Ainda”.

“Flores daquele verão / Sem multidão / Me tiravam de casa”. São os primeiros versos que, com uma pegada indie rock, introduzem a canção “Eu ainda”. Sobre o que se trata? É exatamente o que iremos falar na edição desta semana.

Giovani Florencio Borges é conhecido como Giô

Giovani Florencio Borges, artisticamente conhecido como Giô, 21 anos, natural de Casimiro de Abreu/RJ, graduando em Psicologia e dono de uma voz belíssima e autêntica, concedeu à nós, da revista Freezone, uma entrevista exclusiva.

O lançamento tão esperado.

E foi no dia 27 de fevereiro de 2021 que houve o lançamento do single “Eu ainda”, disponível em todas as plataformas digitais. E no dia 7 de março, a fan base foi alimentada e presenteada com um clipe da mesma canção, gravado na Ilha da Jipoia, Angra dos Reis/RJ. Para conferir o material completo do artista, basta clicar aqui e apreciar esta obra carregada de tanta beleza.

E foi numa quinta feira ensolarada – e também chuvosa – que, através de fotos exclusivas tiradas pelo fotógrafo Luan Novaes e um bate papo, Giô nos contou sobre o seu processo de criação, as suas referências, sobre arte no geral e muito mais. Confira!

No dia 27 de fevereiro lançou o single "Eu ainda", disponível em todas as plataformas digitais

FZ.: Como iniciou a sua relação com a música e o que ela representa para você nos dias de hoje?

Giô: A música sempre foi algo presente na minha vida, até por conta da minha mãe. O meu gosto musical tem influência com o que ela ouvia: balada romântica, músicas internacionais, Djavan, Kid Abelha. Inclusive, se você me perguntar uma banda que seja a minha referência eu diria Kid Abelha. Eu cresci nesse ambiente. Lá em casa ninguém é músico, de tocar mesmo, só sempre ouvindo e tal. Eu acho que a “chavinha” virou para mim quando eu estava num momento triste, que foi quando eu viajei e fiquei meio ‘deprê’ por estar longe de casa e da família. E era a música que me dava um suporte. Isso foi em 2018 e eu me lembro à noite, na sala do meu apartamento, fazendo nada e apenas ouvindo a música por horas. Isso me dava um conforto. Eu já tinha feito aula de teclado antes, que foi aos 12 anos. Eu tentei tipo: “vamos produzir”, mas eu acabei largando. Mas em 2018 teve essa virada de chave. Eu já estudei, eu sei que é possível e eu quero me ver nesse outro lugar, eu quero fazer isso que é importante para mim. E como eu sempre gostei de escrever, eu comecei a olhar para isso como uma ferramenta de auto conhecimento e que me ajuda a passar por momentos turbulentos. Comecei a querer experienciar como um processo de cura. E hoje para mim é isso: é um processo de cura, de botar para fora, de curtir, porque música também é para se balançar, ficar de boa. Então, a música está muito presente na minha vida. Acho que não tem um dia que eu não ouça música.

FZ.: Conte-me sobre como surgiu a ideia do single.

Giô: Esse single eu compus logo no início da quarentena e eu não sabia que seria single e nem a primeira música que eu iria lançar, até porque já tem outras no caminho. Mas quando eu comecei a separar as composições, eu soube que esse iria vir primeiro. Porque a história dele tem a ver com um momento meu. Como diz a música, de ainda estar ali pensando e falando… Eu compus num momento muito catártico; a minha cabeça já estava explodindo, eu não aguentava mais e a minha forma de externalizar isso foi escrevendo. Já tinha tentado outras coisas, conversar com a pessoa, mandei um áudio de 4 minutos e a pessoa não respondeu. É sobre isso (risos). Então, a ideia veio através de um estado de vulnerabilidade, de me conectar com a música e o que eu estava sentindo. Escrevendo e fazendo a harmonia com o violão, eu disse: “esse eu gostei” e guardei. Até que depois eu entrei em contato com o meu produtor, Guilherme Martins, que era meu amigo de ensino fundamental e a gente se reuniu para fazer a produção. Ele curtiu muito. E com isso, essa música começou entrando como o primeiro single.

FZ.: E o que você pretende com o single?

Giô: Cara, vamos lá. Eu acho que é uma pergunta muito difícil, porque tudo na minha vida eu busco dar o meu melhor e o mínimo de expectativa possível. Eu acredito que assim as coisas ficam mais leves, afinal a gente não tem o controle de tudo. Eu acho legal a gente ter um foco, mas não dá para levar como se fosse “aquilo ou nada”. Então assim, eu queria que as pessoas ouvissem, que elas me dessem um retorno, que elas pudessem se conectar… Isso até está acontecendo. Independente se for 1, 2, 10, 20, 1 milhão. Óbvio que eu quero que chegue para mais gente, afinal é o meu trabalho, né?! Mas já aconteceu de, por exemplo, uma menina no Twitter falar: “me diz que eu fui a primeira pessoa que chorei com a sua música?”. Eu fiquei… [expressão de surpresa e empolgação] Não foi a primeira vez, outras pessoas já vieram comentar. E é sobre isso. Sobre gerar essa conexão. Eu quero que isso se expanda mais, mas em questão de expectativa já supriu.

FZ.: Houve alguma referência que você usou para a execução do single?

Giô: Tem. Foi com uma música do Kid Abelha que eu mandei para o meu produtor dar uma olhada, então ele usou algumas coisas. Eu acho que foi “a fórmula do amor”. Tu conhece essa música?

FZ.: Não…

Giô: (cantarola um trecho da canção) Tu conhece sim, porque essa música é muito famosa. Talvez se você ouvir uma e depois outra você não encontre muitas similaridades, mas em questão de instrumental a gente deu uma olhada.

FZ.: Nos detalhes, né?

Giô: É… Tipo assim, esse single tem violão, guitarra, bateria, piano no início, baixo… Então a gente pegou algumas coisinhas de lá, como a forma que a bateria estava e a gente foi se inspirando nisso. Mas eu enviei para ele algumas músicas do Kevin Krauter. Esse cara é fantástico, eu gosto muito das músicas dele. Mas foi isso de referência, porém mais do Kid Abelha.

FZ.: E quais são as suas influências?

Giô: Eu gosto muito de bossa nova. Não conheço tudo, mas eu curto. Eu diria que quando comecei a compor era algo que eu olhava muito. Apesar do meu estilo não ter nada de bossa nova. Por exemplo, dos acordes eu adotei algumas coisas que vieram desse gênero, entendeu? Acorde com sétima maior… Enfim, eu peguei influência nesse sentido. Mas influências diretas, de estilo, tem o Kevin Krauter. Eu ouço direto, ele me inspira bastante. Principalmente em relação a guitarra, eu sou apaixonado. Aqui no Brasil, Kid Abelha, como já falei. Rita Lee também, as antigas eu gosto muito. Estou pensando em influências mais diretas, porque eu gosto do Caetano [Veloso], Djavan, por conta da minha mãe. Mas tem também Terno Rei, Lana Del Rey, HOMESHAKE, Blood Orange, Warpaint, Men I Trust, FKA Twigs, Florence + The Machine. Mas as principais são Kid Abelha e Kevin Krauter.

FZ.: A arte é a maior válvula de escape para expormos as nossas emoções e aquilo que estamos passando. E analisando a letra da canção, percebe-se que o eu lírico está passando por um momento de superação e de “cair na real”. Então, como foi usar deste “recurso” para expressar o que você estava vivenciando?

Giô: Cara, é muito engraçado, porque você notou algo que eu não sei se é tão explícito assim para todo mundo. Mas é justamente sobre isso. Quando eu estava tentando ver o roteiro do clipe, eu fui separando os versos. Tipo: “flores daquele verão / sem multidão / me tiravam de casa”. A pessoa tá feliz, alto astral, sabe? E depois você percebe que vai caindo, de uma coisa que tava bem. Você começa a perceber que tem algo errado, uma separação, tem uma cadência. Só que se eu te falar que eu não fiz intencionalmente… Porque eu estava naquele processo de pôr para fora, então eu escrevi. E nessa música eu não mexi, porque geralmente eu componho e depois eu volto para ver se me agrada depois de um tempo. Mas nessa eu não mexi muito. E ela foi tomando forma, de uma escrita com estilo cronológico. Foi de imaginar uma linha do tempo, dos fatos, do que aconteceu… Então, eu usei desse recurso de memória com a história e saiu. Mas fico feliz de que você conseguiu ter essa análise.

FZ.: O que você julgou ser mais importante nessa música e no processo de produção da mesma?

Giô: Eu acho que é aquela questão da vulnerabilidade e em você se conectar com aquilo. Que tem um poder em você reconhecer o que você está passando naquele momento ao invés de tipo, “vou ficar quieto e pirar na minha”. Pois, eu acredito muito no fato de você se conectar com o sentimento, deixar existir e ele vai embora, ele vai cumprir o que veio fazer. Como um menina chegou para mim e falou: “Ah… Eu me conectei com a minha criança, chorei muito” e caraca, cara!

FZ.: A criança que há nela, certo?

Giô: É… Tipo, a criança ferida. Enfim, é muito difícil falar o que é mais importante, porque é aquilo: a arte é muito subjetiva. Para você vai ser uma coisa, para a menina foi a criança, para outro foi o relacionamento que ele teve. O mais importante é você conseguir acessar em você o que te traz. E no processo de produção, eu acho que uma das coisas mais importantes foi ter me reconectado com esse meu amigo que é o Guilherme, meu produtor. E quando eu cheguei para ele com a ideia da música, pedindo ajuda e tal, e ele logo se prontificou a produzir. Ele tem uma banda, então já tem conhecimento. Nesse processo de produção, foi muito bacana o fato de termos nos reaproximado. O estar com ele e também aprender outras coisas. Porque eu tava numa de querer aprender a produzir, então foi bom estar com alguém que conhece. Isso foi o mais importante.

FZ.: Conte-me mais sobre os colaboradores que participaram do projeto e como foi.

Giô: Então, de colaborador mesmo, que sem ele não rolaria, o Guilherme. Com certeza! Já que ele está no rolê da produção. Eu estou lá cantando lá e ele me corrige real. Depois que o single foi lançado, eu percebi um apoio muito grande de pessoas que me cercavam. Percebi um suporte muito grande do pessoal da UFF de Rio das Ostras do curso de Produção Cultural. E a galera só pilhou, gostaram muito. E acho que perceber essa galera ao meu redor e que de fato entrou para me ajudar, foi muito especial para mim. Tem a galera do Duplex, eles me ajudaram muito. E além dos meus amigos mais próximos, que eu mandava mensagem perguntando o que eles achavam e tal. Não teve tantos colaboradores, mas tendo o Guilherme e a galera foi bom demais.

FZ.: Quais os desafios de um artista independente?

Giô: Eu não sei se eu tenho tanta propriedade para falar sobre, como outros que já estão no caminho há mais tempo. E como eu moro no interior, é muito difícil você conseguir ser visto. Se você não tiver grana também… Porque quando você tem é outra coisa. E não é o meu lugar agora de ter grana (risos). Então, eu acho que o desafio passa por você conseguir colocar o seu trabalho no mundo. Além do desafio de ter uma estrutura disponível para você fazer. Isso o que eu estou fazendo com o Guilherme é no home studio dele, em seu quarto, com as coisas que ele tem. Maravilhoso. Mas e se não existisse o Guilherme? Para onde eu iria? Então, tem uma falta de suporte no geral. A gente tem a Lei Aldir Blanc de incentivo à cultura, mas não é uma coisa comum, tá ligado? É complicado porque não tem o incentivo para o artista produzir, para ele viver da arte dele. E como o artista independente depende só dele na maioria dos casos, então acaba sendo um rolê dobrado.

Confira abaixo o videoclipe “Eu ainda”:

Nós, da revista Freezone, agradecemos ao Giô pela entrevista concedida e desejamos longevidade e muito sucesso em sua carreira. Que a sua voz alcance corações, que as suas composições continuem a falar por nós e que a sua melodia ecoe no mais íntimo. Luz! ✨

Start typing and press Enter to search